O mercado de trabalho brasileiro está passando por rápidas transformações, impulsionadas principalmente pelo avanço da automação em setores tradicionais e emergentes. Esse cenário tem levado muitos profissionais acima de 40 anos a repensarem sua trajetória e buscar alternativas para se manterem competitivos. Conforme levantamento recente do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), houve um aumento de 35% na inscrição de adultos dessa faixa etária em cursos de requalificação profissional entre 2022 e 2023.
A demanda, segundo especialistas, reflete uma preocupação crescente com a estabilidade no emprego e a necessidade de atualização constante para enfrentar a redução de postos de trabalho por causa da tecnologia. “O mercado não espera mais. Hoje, a exigência por novas habilidades é constante, e quem não acompanha fica para trás”, afirma Carla Mendes, consultora de RH. Cursos nas áreas de tecnologia, logística e atendimento ao cliente registraram alta expressiva.
O fenômeno também aponta para uma mudança de mentalidade no perfil do profissional mais maduro, tradicionalmente visto como resistente à inovação. Adriana do Carmo, integrante da Associação Brasileira de Educação Profissional, explica: “Há uma percepção de que aprender ao longo da vida é essencial para permanecer relevante. Aquele medo de não conseguir acompanhar ficou para trás para muitos adultos”.
Além de cursos técnicos, há um interesse crescente em formações voltadas para competências socioemocionais, como liderança, comunicação e gestão de conflitos. Empresas buscam cada vez mais profissionais que saibam lidar com equipes diversas e ambientes dinâmicos, habilidades valorizadas em setores impactados pela automação. Assim, os cursos que somam habilidades técnicas e comportamentais ganharam destaque.
O impacto da automação não se restringe apenas ao setor industrial. Com o avanço da inteligência artificial, bancos e comércios expandiram processos automatizados, estimulando a busca por atualização. “Percebo muitos colegas migrando de áreas mais tradicionais para setores como programação e análise de dados. A capacitação acaba sendo um caminho inevitável para muitos de nós”, relata Marcos Souza, de 47 anos, que concluiu um curso de TI em 2023.
As instituições de ensino técnico e plataformas digitais perceberam essa tendência e adaptaram suas ofertas para atrair o novo público. Flexibilidade de horários, módulos modulares e cursos híbridos vêm sendo estratégias adotadas para facilitar a inserção de adultos que, muitas vezes, conciliam estudos com trabalho e responsabilidades familiares. O acesso facilitado a bolsas e financiamentos também contribuiu para ampliar a procura.
Em alguns setores, empresas vêm incentivando a requalificação de seus funcionários ao oferecer subsídios para cursos e programas de reciclagem interna. Para Mauro Oliveira, diretor de desenvolvimento humano de uma rede varejista, o investimento vale a pena: “Profissionais experientes, ao adquirir novas competências, trazem uma valiosa combinação de maturidade e conhecimento atualizado, melhorando o desempenho organizacional”.
Apesar do avanço, adultos ainda enfrentam desafios, como insegurança diante das novas tecnologias e dúvidas sobre o retorno do investimento em formação. Iniciativas de mentoria e grupos de apoio têm surgido para auxiliar nesse processo, contribuindo para o aumento da confiança e troca de experiências. Dados do Sebrae indicam que 62% dos profissionais requalificados acima de 40 anos conseguiram recolocação em novo emprego em até 12 meses após o curso.
O movimento de requalificação demonstra que a adaptabilidade se tornou uma das competências mais valorizadas no atual cenário brasileiro. Diante da aceleração tecnológica e das transformações no mercado, o aprendizado contínuo deixa de ser uma escolha e passa a ser uma necessidade estratégica. Para muitos adultos, investir na própria formação é garantir não apenas emprego, mas relevância e satisfação profissional em um futuro cada vez mais incerto.

